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quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Doutrina de Deus - Dia 4

Como encarar o problema apresentado pelo Platonismo? Lembre-se do que diz João 1:1-3, "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus. Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por ele, e sem ele nada do que foi feito se fez." Porém, se objetos abstratos existem como entidades auto-existentes, isso gera uma espécie de pluralismo metafísico, onde Deus é apenas mais um ser auto-existente e não criado.

Eis algumas soluções para o Platonismo:

Criacionismo Absoluto: Deus criou esses objetos abstratos, talvez na eternidade passada. Eles dependem de Deus para sua existência. São apenas parte da criação.
Problema com o Criacionismo Absoluto: Para que Deus crie alguns objetos abstratos, eles teriam que já existir. Exemplos: Para Deus criar a propriedade de ser poderoso, Ele já teria que ter a propriedade de ser poderoso. Ou, imagine que Deus queira criar o número 1. Quantos deuses existiriam nesse momento? Um. Ou quantas pessoas haveria na Trindade antes de Deus criar o número 3? Haveria três pessoas. Assim, o Criacionismo Absoluto cria um círculo vicioso que provavelmente invalidade essa visão, por isso essa visão não é a adotada pela maioria dos Cristãos.

Conceitualismo: Santo Agostinho, influenciado por Platão, reconhecia a importância das entidades abstratas, mas ele via a incompatibilidade do domínio platônico com a teologia cristã. Assim, ele moveu esse domínio para dentro da mente de Deus e declarou que os objetos abstratos são, na verdade, ideias de Deus.
Problema com o Conceitualismo: embora essa seja uma visão viável, a mais adotada pelos teólogos Cristãos, ela não é sem problemas. Por exemplo, ela não resolve a questão de como esses objetos abstratos se tornam conhecidos por nós. Como sabemos que 2+2=4? Afinal de contas, essa proposição é um objeto abstrato e, portanto, não exerce nenhum efeito causal sobre nós!

Nominalismo ou anti-realismo: Os objetos abstratos não existem de fato. São apenas ficções úteis, artefatos da linguagem. Por exemplo, ao dizer que "a família brasileira comum tem, em média, 2,5 filhos" estou falando a verdade. Porém, não existe "a família brasileira comum", e nenhuma família tem 2 filhos e meio!

Fig 1. Algumas opções metafísicas sobre a existência de objetos matemáticos
Sendo assim, há três posições quanto á existência de objetos matemáticos:
1) Eles existem (realismo)
2) Eles não existem (anti-realismo)
3) Essa é uma questão sem significado

O realismo afirma que eles existem como objetos abstratos (platonismo), ou como objetos concretos. Como objetos concretos, eles podem ser entidades físicas (fisicalismo) ou ideias (conceitualismo). Como ideias, eles podem ser ideias humanas ou divinas.
O anti-realismo apresenta diversas vertentes. Dentre elas, quero destacar o ficcionalismo, que afirma que declarações sobre objetos matemáticos e propriedades são literalmente falsos, mas úteis. Eles são como declarações da ficção. São como dizer que "Sherlock Holmes viveu na rua Baker e era um detetive." Essa declaração é ficcionalmente verdadeira, mas literalmente falsa. Seria ficcionalmente falso dizer que "Sherlock Holmes vivia na rua Taquarembó e era um pedreiro." para os ficcionalistas, dizer que 2+2=4 só é verdade na ficção da aritmética, mas não no Universo real.
Os defensores do figuralismo se sentem desconfortáveis em dizer que 2+2=4 é uma declaração falsa. Então, eles afirmam que essas declarações são formas figurativas de expressar algo verdadeiro, mas que não deve ser levado literalmente. Por exemplo, quando chove intensamente, é figurativamente verdadeira a afirmação "estão chovendo canivetes". Embora não se possa dizer que essa declaração metafórica seja falsa, interpretá-la literalmente seria um mal-entendido. Da mesa forma, os figuralistas afirmam que a afirmação 2+2=4 é apenas uma forma figurativa de se referir a uma verdade literal. Quando eu digo que há três homens sentados ao redor da mesa, isso é verdade, mas se trata de uma forma figurativa de se expressar. Eu não estou dizendo que há um objeto chamado "3", em adição aos homens sentados.
Tanto o figuralismo quando o ficcionalismo, assim como o conceitualismo divino, são opções viáveis para o teólogo Cristão enfrentar o desafio do Platonismo.


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Aplicação pessoal do atributo da Auto-Existência de Deus

Estivemos dizendo que a Aseidade divina deve ser concebida em termos de necessidade metafísica, ou seja, Deus é um ser que não pode deixar de existir. Além disso, tudo o que existe além de Deus depende de Deus para existir.
Essa doutrina não é um conto de fadas abstrato e sem aplicação prática. Existem pelo menos duas importantes consequências dessa doutrina:

1) Deus deve ser nossa absoluta preocupação na vida. Ele é o ser absoluto, Ele é o ser metafisicamente necessário, de quem flui toda a existência. Seria idolatria colocar algo acima de Deus e, embora poucas pessoas voluntariamente se intitulariam idólatras, quantos afirmariam "minha principal preocupação na vida é conhecer e servir a Deus''? Se o foco é algo além disso, então estamos servindo a um deus menor e caindo em idolatria. No sentido mais absoluto, Ele é Senhor: tudo vem dele e depende dele.
2) A auto-existência de Deus exclui nosso egoísmo. Outra palavra para "auto-existência" é "independência". Isso é exatamente o que satanás e o homem querem. Porém, ao contemplar a necessidade de cada ser vivo de que Deus forneça cada fôlego de vida, nosso egoísmo é humilhado e não podemos levantá-lo contra a auto-existência de Deus.
Jó 42:1-6 descreve o diálogo de Jó com Deus, depois que ele viu a grandeza de Deus no redemoinho:

Então respondeu Jó ao SENHOR, dizendo:
Bem sei eu que tudo podes, e que nenhum dos teus propósitos pode ser impedido.
Quem é este, que sem conhecimento encobre o conselho? Por isso relatei o que não entendia; coisas que para mim eram inescrutáveis, e que eu não entendia.
Escuta-me, pois, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me ensinarás.
Com o ouvir dos meus ouvidos ouvi, mas agora te vêem os meus olhos.
Por isso me abomino e me arrependo no pó e na cinza.
Jó 42:1-6

Essa é a expressão de humildade que devemos ter diante de Deus, esse ser auto-existente de quem dependemos. Assim, Deus deve ser nossa absoluta preocupação na vida e não podemos servir a nosso egoísmo mas sim nos humilharmos e servirmos a Deus.

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