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sábado, 27 de fevereiro de 2016

Doutrina de Deus - Dia 8

Onipresença
Nós falamos anteriormente sobre a auto-existência divina, ou asseidade, e depois falamos sobre a eternidade de Deus, ou Seu relacionamento com o tempo. Hoje vamos falar sobre a Onipresença de Deus, que é o relacionamento de Deus com o espaço.

Dados das Escrituras
1) Deus está presente em qualquer lugar

Para onde me irei do teu espírito, ou para onde fugirei da tua face? Se subir ao céu, lá tu estás; se fizer no inferno a minha cama, eis que tu ali estás também. Se tomar as asas da alva, se habitar nas extremidades do mar, Até ali a tua mão me guiará e a tua destra me susterá. Se disser: Decerto que as trevas me encobrirão; então a noite será luz à roda de mim. Nem ainda as trevas me encobrem de ti; mas a noite resplandece como o dia; as trevas e a luz são para ti a mesma coisa.
Salmos 139:7-12

Porventura sou eu Deus de perto, diz o Senhor, e não também Deus de longe? Esconder-se-ia alguém em esconderijos, de modo que eu não o veja? diz o Senhor. Porventura não encho eu os céus e a terra? diz o Senhor.
Jeremias 23:23,24

2) Deus não habita em um lugar localizado

Mas, na verdade, habitaria Deus na terra? Eis que os céus, e até o céu dos céus, não te poderiam conter, quanto menos esta casa que eu tenho edificado.
1 Reis 8:27

O Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens; [...] Porque nele vivemos, e nos movemos, e existimos;
Atos 17:24 e 28a

Algumas distinções úteis

















O panteísmo é a visão de que tudo é Deus, que Deus é o universo. Então, um panteísta é alguém que identifica o universo com Deus; eles são idênticos. Deus não é um ser transcendente além do universo como no teísmo; em vez disso, o universo é Deus. Às vezes, certas declarações de cientistas ateus têm um sabor de panteísmo. Carl Sagan, o astrônomo, que muitas vezes fala sobre o Cosmos (com um "C" maiúsculo) como tendo os atributos e caráter de Deus. Para ele, o próprio Cosmos parecia ser um objeto de reverência, como quase santo e digno de admiração e adoração. Isso seria uma expressão de panteísmo, que identifica o mundo como Deus.
O panenteismo é uma visão diferente. Esta é a visão de que o mundo é parte de Deus. Normalmente, seria dito que o mundo é para Deus como nosso corpo é para nossa alma. Deus é como a alma do mundo. Assim, o mundo é o corpo de Deus, e, nesse sentido, ele não é distinto do mundo. O mundo é uma parte de Deus. Portanto, há uma parte de Deus que está além do mundo, mas, no entanto, o mundo ainda é, segundo essa visão, "divinizado"; ele se torna parte de Deus. Isto tornou-se popular entre uma escola de filosofia contemporânea chamado "teologia do processo" ou "teísmo do processo", onde o mundo é a personificação de Deus. À medida que o mundo se desenvolve e se desdobra, isto representa o desenvolvimento e aperfeiçoamento de Deus ao tornar-se melhor. Nessa visão, Deus não é um ser perfeito; pelo contrário, Ele é um ser em processo, e Ele está se tornando melhor o tempo todo. Ao vivemos uma vida melhor e contribuirmos para o bem do mundo, nós realmente ajudamos Deus a melhorar porque, ao melhorar o mundo, estamos melhorando Deus. Deus fica "melhor e melhor a cada dia em todos os sentidos", por assim dizer.
Essas duas visões são muito diferentes da onipresença, que é a visão de que Deus é distinto da criação, mas, no entanto, é imanente na criação. Imanência não é como "iminente" com um "i", como quando dizemos, "o Natal é iminente" ou "A segunda vinda de Jesus é iminente", isto é, "prestes a acontecer." Este é "imanente", com uma "a." Isso significa que Deus está presente no mundo. Ele está presente na criação, embora ele também seja transcendente. Na doutrina bíblica da onipresença, Deus é tanto transcendente no sentido de que ele é distinto do mundo (o mundo não é uma parte de Deus, não é Deus, Ele transcende o mundo; Ele não é idêntico ao mundo; o mundo é uma criatura, é uma criação de Deus), mas Ele é também imanente, na medida em que Ele está presente na criação. Vamos falar em um momento sobre o que isso significa, mas isso contrasta a noção de onipresença tanto com o panteísmo e panenteísmo, que são visões heréticas e precisam ser evitadas.

Teologia do processo Versus Teísmo aberto
É ótimo deixar bem claras as distinções terminológicas, porque não queremos acusar alguém de ser alguma coisa, quando na verdade ele ou ela não é! O teísmo aberto não é o mesmo que o teísmo do processo, que eu acabei de descrever. O teísmo aberto é uma visão que é uma compreensão não-tradicional da presciência e da providência de Deus. O teísmo aberto nega que Deus conhece o futuro, pelo menos exaustivamente. Uma vez que Deus não sabe o que vai acontecer, ele assume riscos e faz apostas com o mundo. Ele cria as pessoas, esperando que eles virão a conhecê-lo pessoalmente e serem salvas, mas Ele realmente não sabe se elas vão. Às vezes, o teísmo aberto diz que isso até mesmo lhe dá um forte sentido da providência divina, porque Deus é como o grão-mestre no xadrez que está jogando contra um amador e que pode prever a posição exata e peça com a qual ele vai dar xeque mate no adversário amador. Ele pode fazer isso, não porque ele sabe o que o adversário vai fazer, mas porque ele é tão inteligente que ele sabe que, não importando como o adversário vai se mover, ele vai passar a perna nele e xeque-matá-lo exatamente da forma como ele previu. Assim, o teísmo aberto quer dizer que Deus ainda tem um considerável grau de controle sobre o mundo, mas que, no entanto, Ele assume riscos, e não sabe o que vai acontecer.
Porém, o teísmo aberto não pensa que o mundo é o corpo de Deus ou que é divino, ou que é parte de Deus. O teísmo aberto ainda pode pensar em Deus como distinto do mundo no mundo como uma criatura dependente de Deus. O que o teísmo aberto compartilha com o teísmo do processo é a visão de que Deus está no tempo e que ele está se desenvolvendo e aprendendo coisas novas o tempo todo; Ele não tem conhecimento do futuro. Portanto, há pontos de contato com a teologia do processo, mas devemos ser justos com os teístas abertos. Eu não sou simpático para com o teísmo aberto, mas não devemos acusá-los de ser coisas que eles não são. Eles não são hereges, no sentido de pensar que o mundo é divino ou parte de Deus. Eles não são panenteístas ou panteístas. Um exemplo de um teísta aberto seria Gregory Boyd. Ele é um escritor popular e pastor em Minnesota. Clark Pinnock tornou-se um teísta aberto também. Esses seriam um par de pensadores evangélicos que adotam esse ponto de vista. Teístas do processo incluiriam pessoas como Charles Hartshorne e Alfred Whitehead; e um bom número de pessoas que estão envolvidas no diálogo entre ciência e religião hoje, infelizmente, compraram a ideia do teísmo processo. Panteístas incluiriam hindus e budistas, que pensam que o mundo é divino ou que é Deus.

Onipresença e Cristo
Como Cristo é divino, ou seja, é a segunda pessoa da Trindade, Ele deve ter esse atributo, porque Ele possui a plenitude da natureza divina. Portanto, não podemos dizer que o Pai é onipresente, mas que o Espírito e o Filho não são. Na medida em que a segunda pessoa da Trindade é Deus, ele possui todos os atributos da divindade. Então isso significa que Jesus é onipresente. Isso levanta algumas questões sobre a encarnação porque certamente Jesus esteve na Palestina. Ele foi localizado em um lugar em particular. Na hora do advento, pensamos em Jesus deitado na manjedoura. Mas a doutrina Cristã da criação exige que, embora a natureza humana de Jesus, Seu corpo, estava presente localmente na manjedoura, ou na Palestina, em Sua natureza divina Ele era onipresente e é onipresente. Isso nos obriga a fazer uma distinção entre a natureza divina de Cristo e a natureza humana de Cristo. Embora a natureza humana de Cristo seja, certamente, espacialmente localizada, sua natureza divina não é. Vamos falar mais sobre isso quando chegarmos à Doutrina de Cristo e à doutrina da encarnação.

Sumário sistemático
Quando pensamos sobre a doutrina da onipresença, há dois erros opostos que precisamos evitar. Primeiro de tudo, não devemos pensar em Deus como localizado em qualquer ponto terrestre. Não devemos pensar que Deus habita lá em cima em algum edifício ou que Deus pode ser encontrado em certos locais aqui na Terra. Isso é claramente contrário aos ensinamentos da Escritura. Mas, igualmente, o erro oposto é que não devemos pensar em Deus como localizado no céu. Não devemos pensar que Deus está "lá fora" no céu sentado no trono e que ele está, portanto, não presente aqui. Eu fico surpreendido, francamente, com o número de cristãos que pensam em Deus nesses termos locais - "ele está no céu, em algum lugar, e é lá onde ele está." Isso também tem de ser evitado. Deus não está espacialmente localizado, seja em um local terrestre ou até mesmo em um local paradisíaco. Pelo contrário, a doutrina da onipresença é que ele está presente em toda parte. Então, nós queremos evitar esses dois erros.
Dito isto, a Bíblia não deixa claro se devemos pensar em Deus como transcendendo o espaço ou como estando em todos os lugares de todo o espaço. Temos aqui um problema que é exatamente análogo ao problema que encontramos com a eternidade divina e a relação de Deus com o tempo. Lembre-se, nós vimos que a Bíblia não distingue claramente para nós se Deus é eterno no sentido de transcender o tempo, sendo atemporal, não ter qualquer duração ou extensão na dimensão temporal, mas apenas estar fora do tempo. Nem distingue para nós, se Deus pode ser pensado como ser eterno dentro do tempo - sem começo e sem fim ao longo do tempo. Nós exploramos essas duas visões da eternidade divina e a relação de Deus com o tempo, e eu tentei defender um entendimento particular a esse respeito. Assim como a Bíblia não é clara sobre a natureza da eternidade divina e a relação de Deus com o tempo, também não é clara sobre a natureza da onipresença e a relação de Deus com o espaço. Por um entendimento, gostaríamos de dizer que Deus não existe no espaço, que Ele transcende o espaço e que  não é um ser espacial, de qualquer forma. Por outro entendimento, diríamos que Deus existe em todos os lugares no espaço.
Tradicionalmente, teólogos cristãos não tem pensado em Deus como sendo localizado no espaço. A Bíblia fala de Deus em termos espaciais. "Se eu descer ao inferno, estás lá; Se eu subir ao céu, estás lá ", e assim por diante. Deus está em toda parte. "Nele vivemos, nos movemos e existimos." Mas muitos teólogos gostaria de dizer que esse tipo de linguagem é metafórica, e que, na verdade, Deus é completamente trans-espacial; Ele não existe em nosso espaço tridimensional ou contínuo espaço-tempo espacial ou quadridimensional, de forma alguma.
Como podemos entender isso? Uma vez que Deus é espírito, ele não tem corpo. Deus não tem uma forma humanóide. Ele não tem qualquer tipo de forma. Ele é, por assim dizer, um ser puramente mental. Ele seria como uma alma sem um corpo, uma mente sem um corpo. Deus não tem corpo. Se Ele está no espaço, Ele não estaria no espaço em qualquer tipo de uma sentido local. Ele teria que estar no espaço em todos os lugares.
Mas não devemos pensar em Deus como estando no espaço, no sentido de estar espalhado como um éter invisível por todo o espaço. Ele não é como um gás invisível que está presente em toda parte no espaço. Isso seria incorrecto por várias razões. Por um lado, isso significaria que, se o universo é finito, o que é perfeitamente possível, então Deus seria finito. Não queremos dizer isso, porque Deus é infinito. Mais seriamente, se Deus está espalhado por todo o espaço, como um éter invisível, isso significa que Ele não está totalmente presente em todos os lugares. Em vez disso, existe apenas uma parte de Deus que está presente aqui nesta sala - há apenas um determinado número de metros cúbicos de Deus que está na sala, e a maior parte dEle está fora da sala. Certamente isso não é certo; nós não queremos pensar que tenho um certo volume de Deus no meu copo na mesa de jantar e um volume maior de Deus dentro da casa. Não devemos pensar em Deus como sendo espalhado como um éter por todo o espaço.
Deus, se Ele está no espaço, teria de estar totalmente presente em cada ponto do espaço. Essa é uma noção muito difícil de entender. Se Deus existe em cada ponto no espaço, como ele pode estar totalmente presente em cada ponto no espaço? Pareceria que Ele teria que estar relacionado com o universo físico de uma maneira que é análoga à relação da minha alma, ou a minha mente, ao meu corpo. Eu sou um composto de uma alma e um corpo. Mas minha alma não está localizado em qualquer parte do meu corpo - não é como se a minha alma estivesse no meu cérebro ou que uma alma estivesse em certos neurônios. A alma é uma entidade imaterial que é presente em toda parte em todo o corpo e controla o corpo, mas não são peças ou partes da alma que estão no meu pé ou meu braço. Pelo contrário, a alma está em toda parte totalmente presente no corpo, e pode-se dizer que Deus estaria relacionado com o mundo de uma forma semelhante à maneira como minha alma ou minha mente está com o meu corpo.
No entanto, isso chega muito perto da visão de se dizer que o mundo é o corpo de Deus - o que seria panenteísmo, e queremos evitar isso. A diferença seria que, neste entendimento da onipresença, o mundo não seria uma parte de Deus. Seria uma criação de Deus, e Deus iria trabalhar com ele, mas não é o meio pelo qual Deus sente e sabe coisas da maneira em que minha alma sente as coisas através dos sentidos físicos do meu corpo. Meu corpo media para a minha alma através das terminações nervosas a entrada sensorial de experiências visuais, experiências sonoras, quando ouço coisas, experiências táteis, quando eu toco as coisas. É através das terminações nervosas do meu corpo que estas sensações chegam à minha alma. É por isso que, mesmo que a alma seja distinta do corpo, se o corpo for prejudicado de alguma forma, através, por exemplo, da embriaguez ou drogas ou danos cerebrais, a função da alma é prejudicada, e você não pode pensar. A alma usa o corpo como um instrumento pelo qual ela sente e age no mundo. Isso não seria o caso de Deus. O mundo não é o corpo de Deus nesse sentido. Deus transcende o mundo, e Ele não usa o mundo como uma espécie de órgão sensorial através do qual Ele experimenta e sabe as coisas.
Se nós pensarmos em Deus como estando no mundo semelhante à maneira em que a alma está no corpo, seria no sentido de que Deus pode fazer coisas imediatamente acontecerem no mundo da maneira que minha alma pode imediatamente fazer as coisas acontecerem no meu corpo. Se eu vou levantar meu braço, eu posso, com o esforço simplesmente mental, querer levantar meu braço, e, de repente, com o disparar de neurônios, músculos se contraem, as terminações nervosas enviam estímulos, e as coisas acontecem no meu corpo. Eu posso ter efeitos imediatos em meu corpo através da ação da mente ou da alma. Do mesmo modo, Deus poderia fazer as coisas imediatamente acontecer no mundo pelo exercício de sua atividade mental. Mas, Ele não seria o mundo; o mundo não seria o Seu corpo, apesar de que haveria uma espécie de analogia entre a forma como a alma age no organismo e a maneira como Deus pode agir no espaço.
Às vezes teólogos falam sobre o atributo da imensidão de Deus. A imensidão de Deus pode ser interpretada como esse tipo de presença de Deus em todo o espaço, pelo qual Ele é totalmente presente em cada ponto do espaço. Assim, Deus é imenso no sentido de que Ele preenche todo o espaço e está imediatamente presente em cada ponto no espaço. Essa é uma maneira de pensar sobre a onipresença de Deus - em termos de Sua imensidão e Sua presença imediata e total em cada ponto do espaço.
Por outro lado, talvez, se quisermos evitar os mal-entendidos que são engendrados por pensar sobre o agir de Deus no mundo da maneira como minha alma age no corpo, podemos dizer simplesmente que Deus transcende o espaço totalmente - que Ele não está no espaço em qualquer tipo de sentido literal. Antes, Deus é uma mente infinita que está consciente de (e causalmente ativa em) cada ponto do espaço. Isso poderia ser o significado de dizer que Ele é onipresente - que ele está consciente de e ativo em cada ponto do espaço. Isso quer dizer que, em cada ponto no espaço, Ele sabe o que está acontecendo naquele momento, e Ele é causalmente ativo nesse ponto, pelo menos em sustentar o mundo em existência. Nessa visão, Deus não estaria localizado no espaço em qualquer sentido. Ele seria um ser trans-espacial ou um ser não-espacial. Mas a onipresença significaria que Ele está consciente de e causalmente ativo em cada ponto do espaço. É importante ressaltar que, para operar em todos os lugares, Deus precisa estar consciente de tudo o que acontece neles.
Vou deixar esta uma questão em aberto. Acho que todos podemos concordar que, em qualquer a visão que você aceitar, a onipresença de Deus significa pelo menos que não há lugar para que o conhecimento e o poder de Deus não se estendam. No mínimo, todos nós podemos concordar com isso. Seu conhecimento e poder estendem-se a cada ponto do espaço. E, pelo menos nisso, ambos os pontos de vista podem concordar.

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